sexta-feira, 23 de setembro de 2016

[Entrevista] Yahoo! A minha própria presença tem início em minha mãe!

Porque eu, a minha própria presença, tem o seu início em minha mãe!

Utada Hikaru lança seu mais novo álbum, "Fantôme". 



O Japão todo tem estado à espera do lançamento. É justo dizer que isso simplesmente não é uma hipérbole. 

Finalmente o hiato acabou, e seu 6º álbum japonês e o primeiro depois de 8 anos, "Fantôme" será lançado dia 28 de setembro. A palavra francesa que significa "fantasma" ou "sombra", é uma dedicação a sua mãe, que faleceu em 2013. É o primeiro passo dado em um novo capítulo, e conversamos com ela e com seus sentimentos.

Isso é retomar as suas atividades após cerca de 6 anos...

  Quando anunciei minha pausa, um monte de pessoas estava perguntando "por que?," e eu realmente não sabia como responder. Não diria inércia, mas uma vez que algo começa a se mover, é difícil parar, e quando algo está parado, é difícil de se mover. Teve uma comoção tão imediata em torno da minha estreia, e de lá essa identidade de "Utada Hikaru" cresceu muito. Maior que ela, como um grande caminhão que ficou difícil de guiar, me encontrei incapaz de escolher minha própria direção. Aí pensei: "Isso não é bom", então decidi fazer uma pausa. 

 E agora, depois de 8 anos e meio, esse novo álbum chegou. Por que o título "Fantôme"?

   Queria que este álbum fosse como uma dedicação à minha falecida mãe, então eu estava pensando sobre esse conceito de Samsara (ideia budista do ciclo de morte e renascimento) e a palavra "sombra". Teve um momento que qualquer coisa que eu olhasse, lembrava da minha mãe, e até mesmo o sorriso de meu filho me deixava triste. Mas com a criação deste álbum, estes sentimentos confusos que eu estava tendo, ficaram mais organizados. 

   Este sentimento de, "bem, se estou sentindo a presença da minha mãe como uma sombra, está tudo bem. Porque eu mesma, e minha própria presença, tem o seu início em minha mãe. "E na época que estava pensando sobre o título, não queria usar o inglês como antes, e as palavras japonesas que vieram à mente também não se adequaram. Então veio o pensamento: "Francês parece se encaixar". Comecei a procurar por palavras em francês, e me deparei com a palavra Fantôme, que significa fantasma ou sombra, e eu pensei "É isso!" 

Ouvi dizer que a reação dos ouvintes para as canções "Hanataba wo Kimini" e " Manatsu no Tooriame ", que foram lançado digitalmente em abril, teve um grande impacto no álbum final.

    Muitos ouviram essas 2 canções e me perguntaram: "são sobre sua mãe?"

   Não era compaixão, era mais do que isso ou esse ato de trazer sentimentos. Nunca vi antes em minhas canções, uma reação tão diferente da minha expectativa. E foi algo bom e ruim ao mesmo tempo, pois nunca permiti que esse tipo de reação viesse a influenciar meu próximo material. Mas a reação a essas 2 músicas em particular, foi tão positiva para mim, que diferente dos outros álbuns, deixei que as reações influenciassem no resultado. 

   Quase na metade do processo da gravação, recebi coragem para terminar de escrever as letras restantes. A maioria das letras do álbum foram escritas depois de 3 meses dessas duas músicas. Definitivamente o mais curto prazo até agora. Dito isso, o tema para "Hanataba wo Kimi ni" e "Manatsu no Tooriame" foi muito delicado e por isso que demorou um pouco, e 8 anos e meio é, obviamente, um longo tempo (risos). E, já que todo mundo sabia que era "sobre a minha mãe", eu tinha esse forte senso de responsabilidade para não fazer um álbum com uma imagem ruim dela.

"Hanataba wo Kimi ni" é uma canção escrita especificamente para o drama Asadora “Toto-Neechan,” do canal NHK, certo? 

    Então, já que é um programa nacional, mais que de costume, queria fazer uma abertura lírica mais ampla que o possível. Como os (grupos japoneses) OFF COURSE e TULIP, e também Elton John e "Tiny Dancer", imaginei algo leve e aberto, e era isso que eu estava buscando. Algo que fizesse diferentes ouvintes se verem em uma série de situações diferentes. 

Por outro lado, "Manatsu no Tooriame" tem uma poderosa poesia. Eu estava realmente surpreso com a beleza da língua japonesa. 

   Para essa música, antes mesmo de começar, decidi escrever as letras apenas em japonês. Eu queria seguir o significado de cantar em japonês, e a ideia de cantar uma verdadeira música japonesa. A música não teve espaço para o Inglês, e também para mim, naquele momento, usar o Inglês seria apenas uma "fuga." fácil.

    Não queria sentir o zumbido do romano, mas sim a mancha natural da língua japonesa. Eu queria algo que pudesse ser bonito, agora e para sempre. 

Desse modo, o álbum como um todo, além de algumas palavras em Inglês e Francês, é completamente em escrita japonesa.

   Desde os primeiros estágios da produção, eu conscientemente queria ir a batalha com um álbum numa "linguagem pop japonês." As frases em inglês na minhas letras até hoje foram realmente utilizadas quando não queria cantar diretamente sobre algo, ou só queria acrescentar um pouco de cor. Mas desta vez, só queria alinhar as palavras japonesas mais cruciais, e só cantar letras que eu sentia que eram bonitas. 

A capa do álbum produzida pelo fotógrafo francês Julien Mignot, também é muito bonita e artística. 

    Muito obrigada. Conheci ele antes da produção. Quando eu o conheci, ele era apenas um fotógrafo inexperiente, mas quando visitei recentemente seu site, vi que era tão popular e suas fotos melhoraram (risos). Nos álbuns anteriores, um dos meus diretores sugeria fotógrafos, mas desta vez foi a primeira vez que eu disse: "Esse aqui é bom, o que você acha?" 

    Pessoalmente entrei em contato com ele, e fazemos o ensaio fotográfico em Paris. Foi a primeira vez também que não senti essa sensação de trabalho, apenas estava sendo uma menina normal, conhecendo alguém e este  fosse me fotografar. Ele foi muito natural, muito humano e muito liberal. Isso também acabou amarrando a minha confiança nesse álbum. 



O álbum abre com uma faixa dançante "Michi". Depois de passar pela perda de sua mãe, o seu casamento, o nascimento de seu filho, o juramento assim como a música, sinto como uma condensação franca de todos os seus sentimentos atuais

   Sim. É como, "eu estou bem! Vamos lá! "(Risos). No processo de composição da letra para essa música (Michi), senti como se fosse capaz de compreender o verdadeiro tema deste álbum. Me aliviei por ter conseguido dizer o que queria.

Tem sido 8 anos e meio, e em comparação com seus álbuns anteriores, sua voz e letras soaram ainda mais fortes, mais suaves, e tenho a sensação de que você realmente amadureceu.

    Fora "Michi", coloquei o mínimo de arranjos nas faixas, para certificar de que a minha voz e as palavras pudessem ser claramente ouvidas. Fui ao ponto de dizer: "Se não conseguir escutar as palavras, então não terá sentido", e assim, meu canto também ficou um pouco mais suave e polido. 

Eu concordo. A segunda faixa, "Ore no Kanojo" é muito mais madura que qualquer outra canção sua.

   É uma canção que eu estava aprontando por aí antes de entrar em hiato. Em demo, a  metade das letras eram uma espécie de piada, mas decidi manter a linha de "Ore no Kanojo" (lol). Acho que como estreei muito jovem, antes do meu hiato, a ideia de falar diretamente sobre sexo era tabu. 

   Nunca expressei algo erótico, evitava expressar isso de forma direta. Mas desta vez, senti que foi de PG13 para R* (lol). Acho que antes impus a mim mesma um tipo de censura, e por isso, desta vez, apenas escolhi realmente as palavras, sem um limite. Mesmo palavras simples como "Dakiau (abraçar)" senti livre para usar, e chegar a um acordo com a "morte" e "vida". Finalmente fui capaz de utilizar esse conceito de "sexo", que faz parte da "vida". 

Nesta pista, semelhante ao título do álbum, você usou o francês. 

    Sem nenhuma experiência antes ou qualquer fórmula clara, as palavras francesas vieram apenas gentilmente para mim e fiquei chocada. Acho que talvez queria algo muito legal e que também soasse um tanto sensual. Mais que Inglês, o Francês requer um método de vocalização mais sugestivo. E também, de certo ponto, quando terminei de escrever essa música, comecei a pensar o título do álbum. 

Bem, deixe-me fazer algumas perguntas sobre outras faixas. "Ningyo" é muito incomum para as suas músicas onde tem um som muito rústico e acústico. 

   Depois que minha mãe faleceu, teve momento que eu disse, "não sei se ainda vou compor,". Peguei uma guitarra e essa música meio que acabou nascendo. Esta foi outra que realmente senti vontade de escrever uma "bela canção japonesa", daí me esforcei muito na composição da letra. Por cerca de um ano, me escondi e hesitei em falar (sobre o ocorrido), e em algum momento, acreditei que não iria alcançar meus objetivos e estava prestes a desistir, mas de repente, as palavras começaram a sair de mim. Creio que por meio desse feito, a canção se tornou um orgulho para mim. 

  Na verdade, o videoclipe de animação original de "Hanataba wo Kimi ni", há uma cena em que a mulher que morava na aldeia como um ser humano, vai para o mar e retorna à sua forma original como uma sereia, e quando eu vi os storyboards originais, senti como se o artista estivesse me confortando, calorosamente me apoiando, e mais do que qualquer coisa, apenas verdadeiramente compreendeu e aceitou "Hanataba wo Kimi ni", (e  nessa hora) simplesmente não consegui parar de chorar. E foi esse motivo que a sereia assumiu. 

Em "Kayou no Ookami" meus ouvidos foram realmente tomados pelos suspiros.

   Durante a fase final, quando formulei as ideias, apenas por pura força que rapidamente essa canção foi criada (ri muito). Quando estava tomando chá com um amigo, estávamos discutindo como gostamos muito de Hermann Hesse, e me lembrei do seu romance "Steppenwolf", de onde peguei referência para compor a letra dessa musica. Comprometi-me com isso só depois que os vocais principais foram registrados e toda a gravação do álbum. Foi que finalizei com esses suspiros (risos). Com "Hanataba wo Kimi ni" bem, senti que faltava alguma coisa então adicionei os suspiros. Na verdade, o uso desses "suspiros", se torna um mini-tema do álbum. 

 O álbum chega ao fim com "Sakura Nagashi".

    Na verdade, essa música não tem um lugar, mas afinal tinha que ter. Até agora, sugeria a tracklist para a equipe de produção e trabalhávamos juntos nele, mas desta vez, fiz isso por conta própria. Então, nesse sentido, bem como, este álbum, em uma série de maneiras, como uma líder do projeto, eu tinha realmente que assumir o controle. 

   Devido à morte de minha mãe, e ser uma mãe, tive imediatamente ser uma adulta adequada. Sabendo que ninguém mais poderia mostrar-me o caminho a seguir, e experimentar esta necessidade desesperada para seguir em frente, isso me permitiu captar um sentimento de confiança que eu nunca tive. 

As letras, diretas ou indiretas, tem como inspiração sua "mãe". No entanto, mesmo sendo intimas, a qualidade dessas canções é tão alta que todo mundo é capaz de compartilhá-las. Apenas tenho muita admiração por isso. 

   Mas você não acha que este tema "mãe" é na verdade uma das inspirações "pop"? Digo assim, para a maioria das pessoas, a sua mãe ou alguma presença semelhante a isso, torna-se a base para o seu núcleo, e seu tipo de mundo forma em torno disso. Eu diria que é muito, muito "pop". 

Sim. Quando você coloca dessa forma, faz sentido. 

  Realmente acredito que é por causa disso que "Hanataba wo Kimi ni" foi recebida de forma tão forte. E também agora, mais que a qualquer momento antes, tenho um forte sentimento de confiança com os ouvintes. 

Então, finalmente, para você, que tipo de álbum  "Fantôme" se tornará? 

  É um álbum que fui capaz de "aceitar" e de verdade ter "aceito." Não chamaria isso de auto-terapia, mas quando ouvi de novo "Michi", comecei a pensar "não estou triste. Vou ficar bem". Também pode ser a primeira vez que senti essa sensação de "escutei isso! " tão fortemente (lol). É um álbum que realmente quero que as pessoas ouçam. Se há algum tipo de sentimento que possa chegar ao ouvinte, e ser aceito, ficaria feliz. Pretendo continuar a compor música depois disso, mas acredito que não serei capaz de fazer um álbum como este novamente.



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*PG3 para R: classificação para faixa etária em filmes.

Entrevista original em japonês: yahoo
Entrevista em inglês:twitlonger

Tradução e adaptação: RTenshi

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